Dois dos casos bárbaros que ficaram marcados para sempre e que o povo jamais esquecera
Serial killer de Passo Fundo
O paranaense Adriano da Silva é apontado como o assassino de 12 meninos com idades entre 8 a 13 anos. Os crimes ocorreram entre 2002 e 2003, em cidades do interior do Rio Grande do Sul, quando Silva tinha 25 anos. Ele ficou conhecido como o “serial killer de Passo Fundo” pois a maior parte das mortes aconteceu nessa cidade.
Em seu primeiro depoimento após ser preso, em janeiro de 2004, ele confessou as 12 mortes. Atualmente, afirma que confessou sob ameaças e assume apenas um assassinato.
Silva era procurado desde 2001, quando fugiu da prisão no Paraná. Ele tinha cumprido seis meses de uma pena de 27 anos pela morte de um taxista e ocultação do cadáver. Após a fuga, passou a viver no interior do Rio Grande do Sul, usando nomes falsos e fazendo pequenos trabalhos.
A primeira criança que ele teria assassinado foi Ederson Leite, de 12 anos, em Lagoa Vermelha. O garoto vendia rifas para ajudar seu time de futebol. A última vítima foi o vendedor de picolé Daniel Bernardi Lourenço, de 13 anos, em Sananduva.
Silva confessou que só atacava crianças de origem humilde e usava sempre a mesma estratégia: oferecia dinheiro ao garoto em troca de um pequeno trabalho. Seguia então para um lugar deserto, onde usava golpes de muay thai (boxe tailandês) para nocautear a vítima, que depois era estrangulada com uma corda de nylon. Em ao menos quatro casos, o criminoso também violentou o cadáver. Para não deixar pistas, ele usava luvas e um lenço.
Silva finalmente foi preso quando uma testemunha disse que o viu com a sua última vítima. Como ele confessou e forneceu detalhes sobre os 12 crimes, a polícia acreditou que ele seria o autor das mortes, apesar de outros suspeitos terem sido presos antes dele pelos mesmos assassinatos. Sobre as confissões em casos que a polícia dava como solucionados, o criminoso disse que “gente inocente” havia sido presa.
Ele também foi reconhecido por cinco vítimas que conseguiram fugir.
Com o tempo, Silva passou a dizer que havia matado apenas um garoto – o último - e teria assumido as outras onze mortes em razão de ameaças. No entanto, o sêmen de Silva foi encontrado em um dos meninos que ele diz não ter assassinado. Ele diz que o estuprou, mas que não chegou a matar. Ao ser preso, ele também indicou a localização exata de onde havia enterrado o cadáver de outra criança e participou de ao menos seis reconstituições.
Até o momento, o criminoso foi julgado por nove assassinatos que lhe renderam uma pena de mais de 200 anos de prisão. Silva está detido na Penitenciária de Alta Segurança de Charqueadas
Suzane von Richthofen
Em 31 de outubro de 2002, os pais de Suzane von Richthofen foram mortos a pauladas enquanto dormiam. Os assassinatos foram planejados por Suzane e executados pelo então namorado da jovem, Daniel Cravinhos de Paula e Silva, e pelo irmão dele, Cristian Cravinhos de Paula e Silva. Os três foram condenados pelo crime.
Suzane nasceu em uma família de classe média alta de São Paulo. Ela e o irmão, Andreas, moravam com os pais, Manfred, engenheiro, e Marísia, psicanalista, em uma casa no Campo Belo. Estudante de direito na PUC, a jovem, então com 18 anos, namorava Daniel, de 21, havia três anos. De nível sócio-econômico inferior, Daniel não trabalhava, não estudava, e os dois usavam drogas.
Na noite de 30 de outubro de 2002, Suzane e Daniel levaram o irmão dela, Andreas, então com 15 anos, a um cybercafé, para ele passar a noite entretido com jogos de computador.
Em seguida, o casal encontrou-se com Cristian, à época com 26 anos. Os três seguiram no Gol de Suzane para a casa dela, na rua Zacarias de Góis. Pouco depois da meia-noite do dia 31, Suzane entrou com o carro pelo portão eletrônico. Dias antes, ela já havia desligado o sistema de câmeras e alarme da casa.
Dentro do carro, os irmãos vestiram luvas e meias de nylon na cabeça. Pegaram também os bastões de ferro e madeira que Daniel havia confeccionado, e o trio seguiu para dentro da casa.
Suzane subiu as escadas que davam acesso ao segundo andar, em direção ao quarto de seus pais. Ao confirmar que os dois dormiam, fez sinal para os irmãos. Os três pararam na porta do quarto. Suzane acendeu a luz do corredor de acesso ao quarto e desceu as escadas para não ver ou ouvir o crime.
Daniel entrou no quarto primeiro, seguido por Cristian. O namorado de Suzane tinha Manfred como alvo, enquanto seu irmão devia matar Marísia. O casal chegou a acordar e a abrir os olhos, mas não teve tempo de se defender. Eles foram golpeados seguidamente na cabeça com os bastões. Marísia ainda chegou a levantar o braço para tentar se proteger. Os golpes quebraram também seus dedos.
Apesar da agressão, o casal não morreu de imediato. “Quando uma pessoa sofre um traumatismo craniano grave, imediatamente, a base da sua língua não se sustenta mais, causando a morte por sufocamento”, afirma Ilana Casoy, que acompanhou a reconstituição, no livro sobre o crime “O Quinto Mandamento”. Assim, ao tentar respirar, “a estreita passagem provoca um ronco alto e horripilante que só cessa quando a morte se estabelece”. E foi o que aconteceu. O casal começou a fazer um barulho pelo qual os irmãos não esperavam.
Daniel correu para o banheiro e de lá voltou com duas toalhas molhadas. Cada um colocou uma toalha no rosto de sua vítima na esperança de finalmente matá-la por asfixia. Porém, as toalhas não solucionaram o problema. Daniel foi então à cozinha buscar uma jarra com água. Após jogar a água no rosto de Manfred, o barulho cessou.
Ao ver que Marísia continuava tentando respirar, Cristian enfiou uma toalha na boca da mulher e fechou sua cabeça dentro de um saco de lixo. O casal parecia estar morto.
Cumprida a primeira parte do plano, a dupla passou a trabalhar para fazer com que o crime parecesse latrocínio, ou seja, roubo seguido de homicídio. Orientado por Suzane, Daniel foi ao armário do closet com fundo falso. Retirou a prateleira e encontrou as joias de Marísia e o revólver 38 de Manfred. Ele espalhou as joias pelo quarto e jogou a arma em cima da cama. Cristian, que ficou incumbido de revirar as gavetas, resolveu colocar o revólver perto da mão de Manfred.
Os três afirmam que Suzane não participou do assassinato em si, mas não há certeza sobre sua posição na casa enquanto o crime ocorria e se, depois, ela viu os corpos dos pais.
De acordo com a reconstituição do crime, ela ficou no térreo, onde aproveitou para roubar o dinheiro em espécie que havia na casa, guardado dentro de uma pasta de couro com código. Suzane abriu a maleta pois sabia o segredo, mas Danie depois cortou a pasta com uma faca para forjar o roubo
"Chegamos em casa, eu entrei e fui até o quarto dos meus pais. Eles estavam dormindo. Aí, eu desci, acendi a luz e falei que eles podiam ir. Fiquei sentada no sofá, com a mão no ouvido. Eu não queria mais que meus pais morressem. Mas aí eu percebi que não tinha mais o que fazer, que já era muito tarde", confessou Suzane no depoimento após ser detida.
Para completar a encenação, espalharam livros pela biblioteca e também entraram pela janela da sala para deixar marcas de tênis. Os bastões ensanguentados foram lavados na piscina e tudo que foi usado no crime foi colocado dentro de sacos de lixo, tendo os três inclusive trocado de roupa.
“O crime era um procedimento de amadores. Largaram as jóias, celulares, deixaram uma arma no quarto do casal. Se alguém quer roubar, furtar, não deixaria isso no local”, afirmou o policial, em 2006. “Um ladrão não deixaria a arma no chão.”
O policial Boto disse ter estranhado o comportamento de Suzane, que lhe perguntou quais seriam os procedimentos que a polícia iria seguir. “Eu estranhei a pergunta e a atitude impassível diante da morte dos pais”, afirmou. Em seguida, ela perguntou como estavam os pais. “Quando eu disse que estavam bem, ela ficou espantada. ‘Como?’, perguntou.”
Ele também estranhou as perguntas de Daniel, que chegou ao local pouco depois. "Você sabe se levaram alguma coisa de dentro da casa? Parece que a família guardava todo o dinheiro em uma caixinha." Em seguida, Daniel falou os valores exatos das quantias guardadas
No dia 7 de novembro, a polícia disse a Cristian que precisava de sua ajuda para o reconhecimento de um suspeito. Na delegacia, após cerca de seis horas dando respostas contraditórias e confusas, acabou assumindo participação no crime. Em outra sala, Daniel e Suzane também foram interrogados e confessaram os assassinatos.
O trio, em prisão preventiva por representar perigo a Andreas, principal testemunha, foi denunciado por duplo homicídio triplamente qualificado - por motivo torpe, meio cruel e impossibilidade de defesa da vítima – e de fraude processual, por terem alterado a cena do crime.
Em 2005, os três receberam habeas corpus para aguardar o julgamento em liberdade. Porém, no ano seguinte, voltaram à prisão. Daniel e Cristian foram detidos após darem uma entrevista em que afirmaram que Suzane era estuprada pelo pai desde os 13 anos de idade e que ela planejava matar Manfred e Marísia com uma arma. Já Suzane foi presa novamente pois a Justiça entendeu que ela continuava sendo um risco ao seu irmão.
Em julho de 2006, o trio foi a júri popular. Suzane tentou convencer que havia sido manipulada pelo namorado, que se aproveitava da condição financeira dela e lhe dava drogas. Daniel procurou mostrar que a intenção de assassinar o casal sempre foi de Suzane e que ela a induziu ao crime.
Suzane e Daniel foram sentenciados a 39 anos e seis meses de prisão, e Cristian, a 38 anos e seis meses. A Justiça negou uma revisão das penas e não cabe mais recurso.
Em 2011, Suzane foi considerada “indigna” de receber metade da herança dos pais, avaliada em R$ 11 milhões. A ação foi movida por Andreas. Suzane recebeu a notícia no presídio de Tremembé, onde continua presa.